Bem por isso, os grupos de defesa do meio ambiente tentaram barrar a obra, temendo a interferência no Rio Iguaçu (que hoje tem seis usinas) e consternados com o risco ambiental do alagamento das áreas em que foi planejada. Da mesma forma, grupos políticos de municípios que dependem do turismo nas Cataratas do Iguaçu, sobretudo Foz do Iguaçu, se posicionaram contra a execução – é que a construção poderia causar uma baixa vazão de águas nas Cataratas, prejudicando o turismo e, consequentemente, abalando a economia.
Não bastasse o embate entre os grupos de interesse, a usina assistiu sua construção se arrastar por muito além do que se esperava por causa de disputas políticas e de definição da competência de quem deveria emitir a licença ambiental.
Em 2004, ano em que os estudos de viabilidade da usina começaram, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), órgão responsável pela política de meio ambiente estadual, e o Ibama, órgão responsável pela política nacional, chegaram à conclusão de que a competência para dar o aval ambiental era da primeira instituição. Na primeira versão do projeto, no entanto, parte da usina invadia o Parque Nacional do Iguaçu, levando o Ibama e o ICMBio (o órgão que é o direto do parque) a retirarem seu aval sobre a construção nos anos seguintes.
O recuo dos órgãos nacionais teve uma dose de pressão do Ministério Público do Meio Ambiente de Francisco Beltrão, que acompanhou todo o processo, e de representantes do Parque Nacional do Iguaçu, que cobravam mais rigor na obediência das leis ambientais vigentes.
Desde então, a construção se tornou uma guerra judicial entre órgãos federais, entidades ambientais (que pediam revisão das competências para liberação das licenças ambientais), IAP e poder público estadual e municipal. Paralisada em diversos momentos por liminares judiciais, a usina só viu sua construção engrenar de fato em 2015, sete anos após a licitação e dois após o primeiro tijolo ser erguido.
O entrave também teve um fator ideológico. Governador na época da elaboração e leilão da obra, Roberto Requião (MDB) esperava que a construção e operação da usina ficassem na mão da Copel, a companhia de energia ligada ao estado. Não teve sucesso. A empresa Neoenergia foi a vencedora do processo.
Se, antes, Requião indicava que o empreendimento beneficiaria o Paraná com uma produção maior de energia elétrica e usando recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), depois da derrota da Copel contestou a licitação e sustentou que a licença expedida pelo IAP, um órgão que também faz parte do governo paranaense, era irregular.
Os ventos políticos começaram a movimentar as turbinas da usina no Sudoeste somente em 2011, com o movimento de compra da Copel de uma parcela de sociedade com a Neoenergia. Hoje, a companhia detém 30% do negócio.
Não era o fim da história. Em 2014, chuvas torrenciais em todo o Paraná fizeram as obras pararem novamente. Somente no Sudoeste, o excesso de água superou em 40 vezes o normal, fazendo o volume de água ultraar as barreiras de contenção e destruir parte do canteiro de obras e arrastar equipamentos, adicionando mais tempo à construção e reacendendo a discussão sobre os riscos da estrutura.
Não foi o último cálculo nessa conta. De 2013 para cá, a usina vem sendo alvo de protestos de moradores realocados por conta da construção. Parte deles diz ainda não ter recebido as indenizações impostas ao consórcio responsável pela obra. A última destas manifestações foi em outubro de 2018, quando um grupo ocupou o canteiro de obras para pressionar os construtores e o governo do estado a apresentarem uma nova proposta de reassentamento.
Foram 11 dias de ocupação, mas sem avanço nas negociações. Segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), cem famílias ainda aguardam o cumprimento dos acordos. O Consórcio, à época, não comentou o caso.
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Após a agem de Bolsonaro pela nova hidrelétrica paranaense, a usina deverá ganhar um nome oficial. Nesta semana, a Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa do Paraná deu parecer favorável a projeto do deputado Anibelli Neto (MDB) de nomeá-la “Deputado Caíto Quintana”, em homenagem ao político gaúcho (mas que fez história na Casa legislativa paranaense), morto no início do ano. O projeto será votado em plenário.