“As transações de M&A vinham em um processo de retomada quando, no ano ado, surgiu a pandemia da Covid-19. Muitas empresas interromperam negócios porque não sabiam quais seriam os reflexos da crise. Agora, com o crescimento do trabalho online e países conseguindo vacinas, temos visto nova evolução”, afirma Renata Andrade Alves, líder local de M&A da Mercer no Brasil.
Segundo ela, há uma movimentação intensa de investidores estrangeiros no Brasil durante os últimos meses. “É um reflexo de vários fatores, como a diminuição de preços dos ativos nacionais, mas o que nos chama a atenção é um potencial de crescimento de M&A no país.”
A saúde é outro segmento que tem ganhado relevância, segundo Denis Morante, da Fortezza Partners, butique de investimentos especializada nesse tipo de operação.
Questões macro favorecem este movimento: “O Brasil é um país grande, com uma população envelhecendo e com deficiências na qualidade de atendimento na saúde pública", diz Morante. Segundo a KPMG, foram 46 operações nesse setor no primeiro semestre.
Renata, da Mercer, aponta que outro setor que está em alta é o de energia, motivada pela privatização de ativos públicos. “Grandes conglomerados estão participando das operações. E há um interesse muito grande pela energia eólica e pela solar.”
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Apesar da tendência de crescimento econômico bem menor em 2022, com expectativa de mais instabilidade por causa da deterioração das condições econômicas e da campanha eleitoral, os especialistas em fusões e aquisições ouvidos pela Gazeta do Povo não projetam forte queda no número de operações. “Os investidores em M&A priorizam prazos mais longos”, diz Morante, da Fortezza Partners.
O que eles apontam é para um cenário menos pujante, marcado pela redução na liquidez internacional e com desafios no ambiente doméstico. São esperadas negociações mais travadas para o próximo ano, principalmente entre as empresas de maior porte, que, muitas vezes, precisam captar recursos para concretizar a transação. “Para as de menor porte, deve ser menos dificultoso, porque trabalham mais com recursos próprios”, afirma Motta, da KPMG.
Em relação ao investidor estrangeiro, Morante acredita que ele vai continuar cauteloso. Um estudo feito pela Dealogic para o jornal “Valor”, divulgado no início do mês, aponta para uma forte queda na participação dos estrangeiros durante a pandemia. A fatia deles caiu de 60,6% do valor total das transações em 2019 para 21,7% no ano ado, e 22,5% em 2021, segundo dados consolidados até 26 de novembro. “A questão política é um fator que está influenciando muito.”
Outro motivo para essa cautela, de acordo com o professor Rodrigo Leite, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em istração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ), é o atual cenário do mercado brasileiro.
“Com PIB estagnado e dólar se valorizando frente ao real, vender para os brasileiros não é escalável. Fica mais difícil de se alcançar o break even point”, diz Leite, referindo-se ao momento em que se alcança o equilíbrio entre as receitas e as despesas.